Climate Strike: empresas fecham lojas e engajam o público a favor do clima

CEOs são pontos-chave para credibilidade nesse movimento empresarial 

  • “Os CEOs que querem mostrar que são sérios sobre o planeta e a humanidade podem fazer investimentos em fontes renováveis ​​de energia, proteger nossas terras e água e fazer a transição para um sistema agrícola regenerativo e orgânico”, Rose Marcario, CEO da Patagonia.

Na sexta-feira, 20 de setembro, em New York city, aproximadamente 300 mil pessoas participaram da greve pelo clima, um dos protestos mais emblemáticos pela causa, que tomou a cidade três dias antes da Cúpula pelo Clima da ONU. A greve foi organizada pela The Climate Strike Coalition. No mundo todo foram planejadas mais de 4.500 greves, em mais de 120 países, das quais 500 foram realizadas nos Estados Unidos.

Ben e Jerry’s, Lush Cosmetics e Patagonia fecharam suas lojas e vendas on-line

A greve pelo clima levou algumas empresas no mundo todo a realizar ações de apoio à causa. Mais de 7 mil empresas, entre as quais Tumblr e Wordpress, se comprometeram a doar espaço publicitário ou a colocar banners em seus sites como suporte, segundo The Climate Strike Coalition, principal liderança da greve.

Algumas empresas menores, como Allbirds (calçados), Etsy (e-commerce, varejo) e a Outdoor Voices (roupas esportivas) deram folga aos funcionários para participarem da greve e fecharam seus escritórios.

A Patagônia fechou suas portas em todo o mundo e engajou seus funcionários a participar das manifestações. A empresa tem no ativismo ambiental uma causa desde 1973 e desde 1985 doou mais de US $ 89 milhões para cerca de 3.400 organizações ambientais por meio da campanha “1% para o Planeta”, que promete 1% de suas vendas revertido à preservação e à restauração de ambientes naturais.

Rose Marcario, CEO da Patagonia, publicou um artigo em sua página no LinkedIn sobre a greve a favor do clima. Sua disposição em dialogar com o mundo dos negócios se traduz numa indicação direta e prática em torno de ações bastante concretas. De tempos em tempos a ciência e o mercado se deparam com escolhas muito racionais e calculadas sobre qual tecnologia utilizar ou abdicar, como no caso do DVD e o blue-ray ou das câmeras digitais em detrimento das analógicas, para dar exemplos mais simples. Estes turning-points ocorrem por meio de uma equação concatenada entre demanda e disponibilidade (de recursos e de tecnologias). Os líderes de mercado procuram investir nas tecnologias sucessoras, mesmo enquanto a demanda e a disponibilidade ainda não estão equilibradas, e se tornam competitivos tão logo a balança se equipare. A aposta de Marcario é de que estamos vivendo este momento de transição, onde a adoção de recursos mais sustentáveis (como energia renovável, orgânicos e terra e água com origem certificada) diminuirá custos para todo sistema.

As empresas podem mostrar que levam a sério o cuidado para com seus funcionários e comunidades, assumindo a responsabilidade por sua pegada ecológica no mundo. Os CEOs que querem mostrar que são sérios sobre o planeta e a humanidade podem fazer investimentos em fontes renováveis ​​de energia, proteger nossas terras e água e fazer a transição para um sistema agrícola regenerativo e orgânico. Essas são soluções razoáveis ​​e disponíveis que criam empregos e são econômicas. E todos devemos deixar claro para nossos líderes eleitos que não há espaço no governo para quem nega os impactos no clima e que sua falta de ação está nos matando.

Do Reino Unido, a Lush Cosmetics tem um histórico de doações para grupos considerados progressistas na Europa e nos EUA. Sexta-feira, o site da Lush — inclusive a seção “Sobre nós” — foi bloqueada com uma página que promoveu o Ataque Global ao Clima. “Pare de rolar. Comece a marchar ”, dizia o cabeçalho. O co-fundador da empresa, Mark Constantine, posiciona a marca como uma organização que compartilha valores com campanhas populares que defendem o meio ambiente, os direitos humanos e o bem-estar dos animais. Em um comunicado à imprensa, ele disse que é importante dar tempo a milhares de funcionários da Lush para protestar: “A crise climática não vai esperar e nós também não”.

No setor de alimentos, a Ben e Jerry’s se autoproclama “aspirante à companhia de justiça social”. A empresa inclusive lançou o sorvete sabor Pecan Resist. Falamos sobre o produto nesse post da rpt.estratégia. A marca publicou o seguinte posicionamento sobre o novo sabor:

Estamos orgulhosos de anunciar que nosso novo sabor, Pecan Resist, tem muito mais do que pedaços descolados sob a tampa.

O posicionamento ainda cita que a empresa apoiará quatro organizações que estão trabalhando em direção a um futuro mais justo e equitativo (com doação de US $ 100.000, a lista inclui a Honor the Earth, organização sem fins lucrativos que trabalha para “aumentar a conscientização e apoiar para questões ambientais nativas”). O posicionamento da Ben&Jerry’s é explícito com relação às políticas do governo e se mostra diametralmente oposta a algumas frentes de Donald Trump.

Uma semana antes da greve a favor do clima, a B&J tornou público o seu apoio ao movimento, endossando um futuro sem carbono e reconhece as emissões de carbono oriundas das suas operações. “Da vaca ao cone [de sorvete], se formos honestos, nossos negócios têm uma pegada de carbono considerável, cerca de 1 quilo por recipiente de 500 ml. Isso não quer dizer que não tenhamos trabalhado duro ao longo dos anos para reduzi-lo”, posicionou a B&J na publicação.

É fato que a crise climática vem acelerando em termos de adesão pelo globo. Em um dos lados da balança, a demanda parece ser crescente, de fato, por produtos e serviços (ou mesmo por marcas) que estejam alinhadas à preservação ambiental e no combate às mudanças climáticas. Este efeito, como já falamos em outras oportunidades, coloca aos negócios a oportunidade de procurar um novo posicionamento, mais alinhado ao olhar da sociedade, traduzindo este discurso em compromissos e inovação “de verdade”. Por outro lado, não é simples abandonar tecnologias e recursos vigentes e legítimos que ainda vigoram no sistema de produção atual. O risco de ficar na página virada faz com que os CEOs queiram posicionar seus negócios como ‘atuais’ e ‘conectados’, mas apenas um posicionamento amparado por evidências pode cobrir esta lacuna entre o ser o parecer ser. É preciso boa dose de coragem para entender quais desafios globais trazem mais aderência ao futuro do seu próprio negócio. Veja como se posicionaram outros CEOs no mundo todo sobre a Climate Strike.

Como andam as emissões globais

No dia 21 de setembro, lideranças governamentais de empresas e da sociedade civil se reuniram em New York city para anunciar medidas de enfrentamento às mudanças climáticas na Cúpula de Ação Climática das Nações Unidas. Diante do agravamento da crise climática, a Cúpula da ONU oferece novos caminhos e ações práticas para transformar a resposta global em uma velocidade maior.

A estimativa da ONU é de que o mundo precisaria triplicar ou quintuplicar os esforços para conter as mudanças climáticas e manter o aumento da temperatura do planeta abaixo de 1,5 ° C e evitar a escalada dos danos climáticos no mundo todo. Para efeito de comparação, as metas apresentadas pelos países antes do acordo de Paris consistiu em limitar o aumento da temperatura do planeta em 2.7 ° C . O acordo prevê metas para 2025 e 2030 para a maioria dos países. A partir de 2018 e a cada cinco anos a partir disso serão avaliados os resultados e revisadas as metas e medidas propostas.

Essa redução irá ajudar a protelar danos como a perda irreversível de habitat para animais do Ártico e da Antártida; maior número de casos frequentes de mortes por calor extremo; escassez de água, podendo afetar mais de 300 milhões de pessoas; desaparecimento de recifes de corais que são essenciais para comunidades inteiras e para a vida marinha; aumento do nível do mar, o que ameaça o futuro e a economia de ilhas inteiras. Ações que entreguem impactos positivos em uma dessas questões são oportunidades de ação para empresas e organizações prevenirem e mitigarem seus impactos em mudanças do clima.

A principal causa do aquecimento global, as emissões de CO2, em 2018 registraram alta inédita em sete anos, deixando longe a concretização das metas do Acordo de Paris. Segundo um relatório científico anual publicado ano passado na 24ª Conferência sobre Clima da ONU, na Polônia, as emissões de CO2 ligadas à indústria e à combustão de carvão, petróleo e gás, cresceriam 2,7% em relação a 2017.

Petróleo em aumento

Além do carvão ser o principal responsável por esse impacto, destaque também para o consumo de gás natural que aumentou 2% ao ano no mundo entre 2000 e 2017, e 8,4% na China, que combate a poluição do ar.

O crescimento do número de veículos, 4% a cada ano, e um percentual irrisório de veículos elétricos, também explica o aumento do impacto das emissões. Junta-se a isso o consumo de combustível na aviação comercial que cresceu 27% em 10 anos.

Em dezembro de 2018, o estudo de pesquisadores da Universidade de East Anglia (UEA) e do Global Carbon Project, publicado na “Nature”, “Earth System Science Data” e “Environmental Research Letters”, estima que as emissões globais da queima de combustíveis fósseis deveriam atingir 37,1 bilhões de toneladas de CO2 em 2018, alta de 2,7%. Em 2017, foi de 1,6%. As emissões de CO2 aumentaram pelo segundo ano consecutivo, após três anos de pouco ou nenhum crescimento (de 2014 a 2016).

Metas do Brasil e o Acordo de Paris

A partir da Conferência de Clima da ONU, em 2015, em Paris, que reuniu 195 países para consolidar o primeiro acordo global para frear os impactos nas mudanças do clima e lidar com os impactos já incorrentes, o Brasil aprovou suas próprias metas. Ratificou o acordo de Paris em setembro de 2016 e assumiu os seguintes compromissos:

  • Até 2025 reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE) em 37% abaixo dos níveis de 2005.
  • Até 2030, reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 43% abaixo dos níveis de 2005, em 2030.
  • Aumentar a participação de bioenergia sustentável na sua matriz energética para aproximadamente 18% até 2030
  • Restaurar e reflorestar 12 milhões de hectares de florestas
  • Alcançar uma participação estimada de 45% de energias renováveis na composição da matriz energética em 2030

A chamada Elaboração da Pretendida Contribuição Nacionalmente Determinada (iNDC) do Brasil no contexto do Acordo de Paris, oferece uma agenda de oportunidades para o mundo empresarial localmente. O papel do país no cenário global sempre foi de protagonista, a começar pela Rio-92 (a primeira conferência do clima da ONU). Ao sediar e liderar a conversa, o Brasil foi se destacando com metas ambiciosas de combate ao desmatamento e redução das emissões de carbono. Apesar de certas críticas (fundadas ou não) sobre a continuidade de políticas dessa natureza no atual governo, as metas fazem parte de uma política de Estado, com compromissos claros em relação ao tema para o país. Isto posto, resta às empresas entenderem possibilidades de se conectar à agenda global de maneira consistente e amparada aos compromissos brasileiros no combate às mudanças climáticas. Diversas iniciativas têm calculado e mostrado caminhos da inserção privada neste movimento. Sem dúvidas, esta é uma pauta que deve fazer parte do planejamento das organizações que desejam trilhar um crescimento exponencial e, de fato, conectado às novas demandas e tecnologias.

2,03 bilhões de toneladas de CO2eq

58% uso de terra e florestas

20% agropecuária

16% energia

4% processos industriais

2% tratamento de resíduos

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