A resposta não é tã simples. Por isso, é fundamental que as escolhas de negócios sejam baseadas em informação.
Cada vez mais cresce a questão da geração e descarte de resíduos, bem como consumo de recursos naturais e economia linear x economia circular. No centro desta discussão, encontra-se o plástico, geralmente caracterizado como o resíduo mais problemático da atualidade, especialmente no que diz respeito aos descartáveis e às embalagens plásticas, e muito se sugere que seja feita a substituição deste material por opções alternativas.
Isso nos traz um questionamento:
Qual seria o melhor material para se utilizar, quando pensamos na sustentabilidade?
A resposta para essa questão, assim como todas relativas à sustentabilidade, não é simples, e nossas escolhas devem ser sempre embasadas em informações acerca de diversos fatores.
Por um lado, a discussão quanto aos plásticos se torna cada vez mais proeminente. Por ser um material muito leve e resistente, é ótimo para ser usado em embalagens dos mais variados tipos. Contudo, isso faz também com que ele se torne um grande desafio no momento do seu descarte, trazendo diversos impactos negativos ao meio ambiente quando descartado incorretamente.
O plástico é um material (em grande parte) reciclável. Contudo, seus índices de reciclagem ainda são muito baixos, especialmente para alguns tipos de plástico com menor atratividade no mercado de reciclagem, como os plásticos flexíveis. Um estudo divulgado pela OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) apontou que, em 2019, foram geradas 353 milhões de toneladas de resíduos plásticos, das quais apenas 9% foram recicladas. Ainda segundo o relatório, 19% destas foram incineradas e cerca de 50% acabaram em aterros controlados. O principal problema está nos 22% restantes, que teriam sido deixados em aterros ilegais, queimados ou abandonados no meio da natureza.
Atualmente, uma das principais críticas ao material está na quantidade de resíduos que vai parar na natureza, especialmente nos oceanos. Um relatório publicado pela WWF no início de 2022 apontou que entre 19 milhões e 23 milhões de resíduos plásticos chegam ao mar anualmente, e o material já "alcançou todas as partes do oceano, da superfície do mar ao fundo do oceano, dos polos às costas das ilhas mais remotas, e é detectável desde no menor plâncton até a maior baleia". Segundo dados da ONU, os plásticos são a maior, mais prejudicial e mais persistente fração do lixo marinho, representando pelo menos 85% do total de resíduos marinhos. Esta poluição traz graves consequências para o meio ambiente, ecossistemas e espécies que os habitam, e também para nossa saúde.
A maioria dos itens plásticos nunca desaparece totalmente; eles apenas se decompõem em pedaços cada vez menores. Quando os plásticos se decompõem no ambiente marinho, eles transferem microplásticos, microfibras sintéticas e celulósicas, produtos químicos tóxicos, metais e micropoluentes para águas e sedimentos e eventualmente para cadeias alimentares marinhas. A liberação de produtos químicos associados aos plásticos através da lixiviação no ambiente marinho está recebendo atenção crescente, já que alguns desses produtos químicos são substâncias preocupantes ou têm propriedades perturbadoras do sistema endócrino.
De modo geral, quando comparado a outros materiais, o plástico tem um tempo de degradação bem mais longo. Além disso, no Brasil sua taxa de reciclagem é uma das mais baixas.
Se, por um lado, temos um enorme problema associado à (má) destinação dos materiais plásticos, por outro lado eles se mostram superiores às suas alternativas em outros aspectos.
O uso de plástico em embalagens traz benefícios, como menores custos, maior leveza e durabilidade, proteção e conservação de alimentos, gerando menor desperdício. Inclusive, para a maior parte das aplicações de embalagens de alimentos, há poucas alternativas viáveis para o plástico. Outro ponto muito importante é que, de acordo com estudos, o plástico apresenta uma menor pegada de carbono.
No final de setembro, a McKinsey publicou um novo estudo “Climate impact of plastics” sobre o impacto climático do plástico, medindo suas emissões ao longo de todo o ciclo de vida de plásticos utilizados nas mais diversas áreas, desde encanamentos e fabricação de carros, até roupas e embalagens. Feito isso, o estudo comparou estas emissões com as provenientes de materiais alternativos - papel, aço, alumínio, madeira, algodão, lã, fibra de vidro, entre outros. Como resultado, o plástico se saiu melhor em 13 das 14 aplicações, incluindo nas embalagens (exceto tambores industriais).
Segundo o relatório, a produção das sacolas de papel causa três vezes mais emissões que as de plástico devido ao maior uso de matéria-prima e emissões de transporte, e essa diferença no impacto aumenta para cinco vezes quando se considera o descarte e o impacto no uso. Mais pesadas e volumosas que sacolas de plástico, sacolas de papel exigem mais caminhões (e combustível) para serem transportadas, gastam mais energia e água, e causam mais acidificação da atmosfera e eutrofização, para além das emissões de GEE. O processo de reciclagem do papel também apresenta algumas questões: apesar da produção de papel reciclado poupar celulose virgem não necessitar do branqueamento da celulose, que demanda da utilização de peróxidos, dióxidos de sódio e cloro, dentre outros, os processos de transformação para obtenção da fibra reciclada demandam maior consumo de energia e água que os do papel branco e também geram maior quantidade de resíduos. Além disso, uma fibra pode ser reciclada várias vezes, mas não indefinidamente. A reciclagem de papel precisa incorporar uma certa quantidade de fibras novas porque a celulose se deteriora cada vez que é reciclada. Por outro lado, o papel é também um material biodegradável, de modo que seu descarte incorreto não causa tantos problemas na natureza.
Segundo o site Our World in Data, para que uma sacola de algodão tenha um impacto ambiental (considerando uma média dos indicadores estudados) tão baixo quanto uma sacola plástica “tradicional” descartável (de uso único), seria necessário que ela fosse reutilizada ao menos 840 vezes. Já para uma sacola de papel “cru”, este número seria de ao menos 9 vezes.
Outro material colocado como alternativa popular ao plástico em algumas aplicações é o vidro. A embalagem de vidro é muitas vezes reutilizável e até retornável, porém é menos conveniente no ponto de venda e no transporte logístico. Seu reuso acaba ficando muito restrito, por conta de sua fragilidade – é difícil garantir que as embalagens cheguem intactas para reuso.
De qualquer forma, o vidro que chega quebrado nas cooperativas pode ser destinado para a reciclagem, porém ainda há o desafio relacionado à compactação do material, para facilitar sua logística na venda. Outro ponto que complica sua reciclagem no Brasil é o fato de os recicladores estarem concentrados na região Sudeste do país. Além disso, o preço do vidro no mercado de reciclagem chega a ser dez vezes menor que o preço do PET.
O vidro pode ser reciclado infinitas vezes, tendo a mesma qualidade de um vidro virgem. Mas sendo a areia a principal matéria-prima do vidro, existe uma competição entre a areia e o vidro reciclável na produção de novas garrafas. Já em relação ao descarte inadequado, por ser um material que é inerte na natureza e, não causa danos tão nocivos a ela.
Merecem destaque também as embalagens biodegradáveis, que cada vez mais aparecem no mercado como alternativa sustentável. Existem diversos tipos de embalagens biodegradáveis, porém, de um modo geral, para garantir sua degradação adequada, é preciso que seu descarte seja feito em usinas de compostagem, e no Brasil, a maior parte dos resíduos acaba indo parar em aterros e lixões, onde não há garantias de que o material se biodegrade completamente. As condições nestes ambientes geralmente fazem com que a degradação seja anaeróbia, liberando metano, um dos gases que mais contribuem para o efeito estufa. Além disso, muitas das alternativas biodegradáveis ainda apresentam custos de produção mais elevados.
Sendo assim, de um lado, temos a questão da gestão dos resíduos e da contaminação do meio ambiente devido ao descarte incorreto. Do outro lado, temos as emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE), um tema de relevância enorme na atualidade, e a qualidade dos materiais no que diz respeito à sua finalidade. Certamente a escolha não é tão simples, e o importante é continuar entendendo o que se passa por trás disso tudo.
Após analisar todas essas informações e as diferentes variáveis, há uma única alternativa de material mais sustentável?
Fontes: